Jornada até a fatídica noite de Domingo (Revisitado)

Publicado em 27/11/2025

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Caminho de outono entre árvores douradas

"O outono. Entre o verão e o inverno"

De uns tempos para cá, coisa de 10 anos mais ou menos, minha perspectiva sobre vários assuntos mudou, ou se expandiu. Uma que sofreu essas transformações foi em relação ao dia de domingo. Sinto uma carga melancólica maior em relação aos outros dias. Não sei definir exatamente, mas antes da noite, nos momentos de descanso, surge um clima de transição - como se um peso que tinha sumido começasse a voltar. É o limiar entre liberdade e prisão, por mais que não queira definir assim.

Parando para pensar, desde criança eu já achava o domingo melancólico. Não pelos mesmos motivos de agora — era só por ser o dia anterior para ir para escola. Mas a diferença é que antes era uma fuga total, agora não. Você tem que estar consciente toda hora, é só um alívio momentâneo mas a carga é quase a mesma. Somos obrigados a imaginar todas as possibilidades de errar. A tristeza maior é sentir que o tempo se esvai, a impossibilidade de aproveitar o momento, sabendo que irá acabar em breve.

Mas, anos e anos se passando, não me sentia (ou sinto) conectado com boa parte do que seria o domingo tipicamente brasileiro. Eu não bebo, nem assisto futebol e/ou aqueles programas dominicais cheios de sensacionalismo e coisas aleatórias. Me isolo no meu mundo, apesar de que existem vários outros mundos iguais - mas estão anos-luz de distância, ou estão perto, mas perdemos tempo nos lamentando. Há essa tensão em querer participar e pertencer, mas tem uma força que repele para longe. Melhor assim.

Finalmente terminei de ler Saturno nos Trópicos - a melancolia europeia chega ao Brasil. Uma leitura interessante, que é tema da próxima publicação. Está pronto, falta só alguns ajustes. É bastante interessante as questões levantadas e as não levantadas. Não sei exatamente se isso enche a cabeça de mais neuroses ou alivia elas. Os pontos explicados sobre a melancolia e tristezas são - pelo menos para mim, bastante reveladores em questões de uma inconsciência coletiva, especialmente brasileira. Não só um mergulho e estudo da psique brasileira, mas acho que talvez no Neocities como um todo, seja estrangeiro ou não. Não tem como negar que grande parte dos sites criados contêm altas doses de melancolia, nostalgia e saudade e acredito que possa revelar algumas coisas, enfim, leiam e vão entender.

O domingo continua aí, semana após semana, me forçando a encarar o limiar entre liberdade e prisão. E eu continuo aqui, no meu mundo anos-luz de distância, esperando encontrar outros mundos iguais que também flutuam sozinhos, próximos mas intocáveis.